Durante séculos, um livro tem sido alvo de glorificação e demonização, de duras críticas e de errôneas interpretações. Ficou “preso” à elite clerical desde o momento de sua má finalização e após uma era conflituosa passou a ser um dos livros mais lidos de todo o Ocidente. Sim, estamos falando da Bíblia Sagrada. De forma alguma, neste artigo, criarei novas interpretações sobre um trabalho tão magnífico como este. Entretanto, é chegada à hora de olharmos esse livro com outro viés – já que muitos são os cristãos que pensam que a Bíblia foi cuspida do céu em pleno estado de perfeição. Enfim, está na hora de compreendermos a outra face dessa obra milenar. Como fonte de informação, usarei aqui os estudos do Dr. Bart D. Ehrman, professor, teólogo e um dos maiores especialistas em estudos bíblicos do mundo.
Sem sombra de dúvidas, existe uma pergunta que assola a mente de milhares de pessoas – religiosas ou não – e que de simples não tem nada: Quem escreveu a Bíblia Sagrada? Inicialmente, Cristo pregou suas palavras para judeus e miseráveis da Galileia. Após a reunião dos doze discípulos, e mais tarde, com a sua crucificação, seus ensinamentos foram sendo repassados de boca em boca, através dos discípulos missionários e seus seguidores. Pense numa grande rede de informações, parábolas e acontecimentos sobre a vida de Cristo, sendo repassadas de pessoa por pessoa, como um grande “ telefone sem-fio” do Oriente Médio até as províncias da Ásia Menor. Você acredita que a informação repassada por Paulo será a mesma quando chegar aos ouvidos do escritor da Bíblia – décadas depois dos acontecimentos que se sucederam? A única forma de converter pagãos em cristãos era pela tradição oral: contar o que Cristo tinha feito, no caso, seus milagres. O interessante é que as pessoas ainda pensam que o início do Novo Testamento foi escrito pelos próprios discípulos de Cristo. Não há possibilidade de isso ter acontecido, já que os doze eram humildes trabalhadores iletrados. “O analfabetismo era disseminado por todo o império romano”, afirma Bart Ehrman. Atos dos Apóstolos foi escrito por volta de 70 d.C. Marcos em 80 d.C. Lucas e Mateus aproximadamente 85 d.C. (usando como base o próprio evangelho de Marcos) e João por volta de 95 d.C. Os autores desses evangelhos foram cristãos posteriores à época de Cristo. Viviam em uma área urbana – onde havia uma grande quantidade de cristãos e possuíam dotes literários de invejar qualquer escriba. Esses são considerados os pseudônimos dos discípulos (eles escreveram em nome dos seguidores de Cristo). Além desses evangelhos, existem outros. Não, eu não estou me referindo aos outros que estão na Bíblia, e sim aos que por alguma razão foram tirados do cânone pelo clero e por evangelistas. Os evangelhos de Maria Madalena, Filipe, Tomé e outros Apocalipses são considerados “Apócrifos” – “Apócrifo” vem do grego Apokryphos que significa “oculto”. Nesses evangelhos demonizados pela Igreja contêm passagens da vida de Cristo e da época em que ele viveu, contêm também diálogos com o mestre e eventos ocorridos com seus seguidores.
Perseguições em massa contra os cristãos por imperadores como Nero e Diocleciano corroboraram um cenário de conflitos e social anarquia do império Romano. Foi então que, no século IV, o imperador Constantino I convocou o Concilio de Nicéia, e nele, seriam tomadas decisões cruciais para a religião cristã (como a escolha da data da Páscoa e o fim do debate sobre a dualidade de Jesus – se ele seria apenas homem, apenas divino ou ambos). Neste mesmo século, um sábio e influente bispo, Atanásio de Alexandria, listou todos os livros do Novo Testamento e, graças ao aval do papado, foram esses os escolhidos e “santificados” pelo clero. “Atanásio foi o maior teólogo de seu tempo e um homem de energia e coragem épicas”, afirma o historiador britânico Eamon Duffy em sua obra “Santos e Pecadores”. Enfim, a Bíblia, como qualquer outro livro ou documento, teve seu momento de processo, labor, reformas e construções – sejam literárias ou teóricas. Entretanto, Bart D. Ehrman afirma que: Pregadores da palavra “aprendem sobre as abordagens críticas, discrepâncias e contradições, descobrem todo o tipo de erros e equívocos históricos (...) eles aprendem tudo isso e, ainda assim, quando entram para o ministério da Igreja, parecem deixar tudo de lado”. Erros históricos, novos evangelhos e segredos ocultos existem sim, são os seus padres e pastores que, de uma forma infeliz, omitem de vocês todas essas informações.
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