O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais.
(Agostinho de Hipona)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sofrimento, preconceito e ignorância

É cabível nesta página de jornal, dentro desta pequena coluna, eu tentar discorrer sobre o passado da humanidade, já intacto – pois, evidentemente, ele já passou. Um influente e bastante conhecido filósofo chinês, Confúcio, disse certa vez: “Para entender o futuro, estude o passado”. E é exatamente o que eu tento fazer dia após dia. Toda manhã, quando pego o jornal, mergulho nos conflitos do Oriente Médio, nos escândalos de pedofilia provocados padres e bispos, nas alianças políticas da América Latina e na tão temida crise financeira que devasta como um tsunami a economia global. Conseqüentemente, recorro para os livros de História, para os filósofos da Grécia Antiga, os clérigos do medievo, artistas da renascença e historiadores da época moderno-contemporânea. Será que, neste meio tempo, irei compreender um pouco mais de meu tempo presente e de meu futuro próximo? Talvez sim, talvez não. Interiormente, o sentimento é de temor. Seguindo a linha de raciocínio de um dos maiores pensadores da nossa era, o historiador marxista Eric Hobsbawm, eu lhes pergunto francamente: Para onde estamos indo?

A sociedade e todo o “sistema” brasileiro e mundial já estão corrompidos – sejam nos moldes financeiros, políticos, sociais ou até mesmo morais. Cada vez os ricos ficam mais ricos, e os pobres ficam mais pobres. As guerras em busca do poderio militar e econômico devastam famílias, culturas e crenças. Sonhos são despedaçados. Muçulmanos se tornaram terroristas, cristãos se tornaram os detentores da verdade e da paz mundial. Será mesmo? Não existe nenhuma preocupação com o meio ambiente; as conferencias mundiais sobre o clima – que esquenta de ano em ano – são totalmente esquecidas pela mídia. Uma mídia controladora, manipuladora e alienante. Os programas televisivos perderam toda sua qualidade, mas será que um dia a tiveram? Vozes como a de Frank Sinatra, Chico Buarque, Tom Jobim e Ray Charles foram violentamente caladas, dando lugar para pequenas aberrações pré-fabricadas. O mundo escuta, o mundo dança. Os ouvidos sangram, os pés doem. O respeito sexual, racial e, principalmente, a liberdade religiosa foram perdidos, submersos em uma civilização cada vez mais preconceituosa e pseudo-tradicionalista. O continente europeu afunda economicamente, a África clama por comida, a ONU vomita incompetência e desinteresse, e enquanto isso, a Santa Igreja de Roma se torna cada vez mais profana, fechada e imoral – sem contar nos templos protestantes que se tornaram pequenos bancos detentores da “verdade absoluta”. Uns suplicam pela verdade, já outros são silenciados pelo poder – ou como diria Charles Loyseau, jurista parisiense do século XVII, silenciados pelo “aparelho de Estado”. Drogas, assassinatos, mentira, ganância, guerras, ignorância. Uns manipulam e outros são manipulados, uns dão gargalhadas e outros choram em desespero. Até quando?

Não é questão de ideologia, de esquerda ou de direita, de ser comunista ou capitalista. É questão de ser humano, justo, fraterno. Lembrem-se: Roma caiu. Mas esse grande império não caiu por causa da violenta invasão bárbara germânica de 476 d.C. como os livros didáticos tentam, incansavelmente, mostrar. A anarquia militar, social e política já assolavam o Império Romano desde os tempos do imperador Constantino I, o Grande. Agora eu lhes pergunto: Futuramente, os livros didáticos poderiam mostrar a “Queda da Civilização Humana”? Eric Hobsbawm já nos deu uma dica: Nós estamos entrando na era do “Declínio Norte-Americano” – das crises, conflitos e de um enorme sofrimento. Por fim, um grande poeta irlandês do século passado, William Butler Yeats, escreveu certa vez: “A maré, turva pelo sangue, foi liberada, e, em toda parte, a cerimônia da inocência nela se afoga. Os melhores perdem a convicção, enquanto os piores estão repletos de entusiasmo”. É, isso te lembra alguma coisa? Foi o que eu pensei.

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