
O termo, os ideais e os conceitos de "liberdade" que ativistas, grupos e governos usam e abusam atualmente – como fizeram nos séculos de outrora – tem como gênese sociopolítica, semântica e conceitual no vasto e complexo Século das Luzes, ou no movimento ocidental conhecido também como Iluminismo. Foi nesse momento da História que a razão começou a se sobressair da religião. A ciência e a fé se chocaram verdadeiramente. A filosofia política e econômica ganharam novas facetas e diversos movimentos contra grandes instituições, como o poderoso Império Católico e a devassa Monarquia francesa, começaram a ser orquestrados.
Sociedades secretas também foram fundadas, como a Maçonaria, em 1717, e os Illuminati da Baviera, em 1776, sedentas por mudanças, carregando novas visões e concepções de mundo, tanto no âmbito científico e cultural quanto no político e social. Novos ideais revolucionários ganharam força graças a Guerra da Independência dos Estados Unidos, ocorrida em 1776, liderada pelos "Pais da Nação", Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e o general George Washington. Enquanto as revoluções assolavam o mundo, se alastrando por oceanos e continentes, a Colina Vaticana, e sobre ela a Basílica de São Pedro, sentia-se temerosa. Pio VII, Sumo Pontífice na época, afirmou: "Há uma coisa mais disparatada do que dar liberdade para todos?". Para Pio, assim como para o Papado, quem detinha as chaves do céu, comandava a Terra – mas, felizmente, eles estavam enganados.
Logo após essa afirmação calamitosa, não demorou muito para que a maior revolução da História da humanidade arrastasse a própria nobreza e o clero para o abismo e, junto com eles, as cabeças dos reis e rainhas de então. No dia 14 de Julho de 1789, em Paris, a Bastilha foi derrubada. Milhares saíram às ruas, erguiam bandeiras e barricadas. Camponeses, comerciantes, burgueses e mendigos. Na França, logo surgiria o lema – empregado pela Maçonaria – "liberdade, igualdade e fraternidade". A essência revolucionária do jacobinismo-maçônico e liberal logo se espalharia por todo continente europeu e pelas Américas. O povo almejava liberdade. Estadistas tentaram controlar essa onda comunista, liberal e republicana, formando uma vã “Santa Aliança”, em razão da suplica do Vigário de Cristo. Logo os pilares do absolutismo e do catolicismo político iriam ser massacrados.
Mas a essência, a imagem ou o símbolo da liberdade em si é apagado. Quem seria a mulher que levanta a bandeira da liberdade no quadro de Eugène Delacroix? Ela remonta os tempos da Roma Antiga, do paganismo e do próprio cristianismo. Nos afrescos e nas pinturas mais belas da era moderno-contemporânea ela jaz. A bela Marianne, a Estátua da Liberdade dos Estados Unidos da América, o símbolo da Justiça e até mesmo a face da mulher na nota do real brasileiro representam deusas romanas, intituladas “Libertas” e “Irene”. O “paganismo feminino”, se assim posso chamá-lo, se fez presente na França revolucionária, na Era Napoleônica, nas lojas maçônicas dos EUA, nos ritos dos Illuminati e até mesmo nos símbolos das novas capitais americanas – e isso só foi possível com a queda da opressão política da Igreja Católica. Mesmo assim, pouco se sabe dessa conexão mística entre deusas e os ideais iluministas, dessa herança pagã, tão bela e misteriosa que ainda reina não somente nas Américas e na Europa, mas em todo o mundo artístico, cultural, religioso, filosófico e social. Até quando ficaremos sem saber?
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