O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais.
(Agostinho de Hipona)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Cristo, a Bíblia e sua História

O cristianismo, em seu âmago, representa um conceito único, uma verdade e um misticismo incontestáveis. É uma das religiões mais antigas da História e tem no Ocidente – e em todo o globo – milhares de adeptos que se dividem não somente entre católicos e protestantes, mas entre diversas outras pequenas comunidades ou grupos. O que poucos sabem é como sua história foi sendo construída tanto por bispos e teólogos como por imperadores e reis, uma história extremamente controversa e que pode vir a desconstruir muito daquilo que as pessoas hoje são doutrinadas nas igrejas. A grande ironia é que o homem que iniciou essa nova concepção de mundo ou esse ideário estava longe de ser um poderoso rei, mesmo assim sabemos que foi um imperador romano e um influente bispo da Igreja que juntos moldaram muito daquilo que hoje pensamos sobre a fé cristã. Por isso, estudiosos buscam novas informações a respeito das diversas questões envoltas da Bíblia e de Cristo. Muitas vezes, essas respostas encontradas podem ser extremamente impactantes.

Tudo se inicia no anárquico Império Romano, ou melhor, nas províncias orientais recém-conquistadas de Roma. Jesus, um judeu “rebelde” que prega o amor, a igualdade e um deus único, enfrenta a fúria do Estado romano, que na visão monoteísta-cristã pode ser considerado intrinsecamente pagão. Como qualquer outro delator ou indivíduo que atente sobre o Estado, Jesus veio a ser crucificado. Mesmo após a sua morte, seus seguidores e sua influência não pararam de crescer. "É notável que um homem que viveu há mais de 2000 anos, que não tinha cargo público ou riqueza e que não viajou além de alguns dias de caminhada de sua cidade natal tenha tido tanta influência na história”, afirma o historiador australiano Geoffrey Blainey. Já no século III, como mostram os documentos, não foram poucos os cristãos perseguidos e as chacinas ordenadas por imperadores como Nero e Diocleciano, mas também não foram em demasia como muitos autores cristãos almejam mostrar. Em uma delas, o próprio apóstolo Pedro, é crucificado de ponta-cabeça, no local que viria ser futuramente construída a Basílica de São Pedro.

A guerra entre pagãos e cristãos, um conflito que quase levou Roma à beira da “divisão”, veio a ser sanado – apenas por alguns anos – pelo Supremo Sacerdote e imperador romano Constantino, e pela convocação da famosa assembleia religiosa conhecida como Concílio de Nicéia. De 313 a 325, Constantino liberou, dogmatizou, organizou e debateu os aspectos mais importantes do cristianismo com diversos teólogos, bispos e doutores da Igreja. Mesmo supostamente pagão a vida toda e batizado apenas moribundo, ele deu início a longa e controversa história do cristianismo. “Quaisquer que fossem as suas convicções mais íntimas, Constantino reconhecera a Igreja não como o principal obstáculo à unidade e à reforma, mas como a sua melhor esperança (...) de seita perseguida, o cristianismo passou a religião mais favorecida”, afirma o historiador britânico Eamon Duffy. O cristianismo só viria a se tornar oficial com o imperador Teodósio I, no ano 390.

O que sabemos sobre a vida de Cristo consta nos evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos, João e Lucas, juntamente com o livro de Atos. Como mostram os pesquisadores, esses livros só viriam a ser escritos após a morte de Jesus e de seus Apóstolos, por autores cristãos dotados de grandes habilidades literárias – não por camponeses da Galileia rural. “O analfabetismo era disseminado por todo o Império Romano. Na melhor fase, talvez 10% da população fosse grosseiramente alfabetizada. E esses 10% seriam das classes abastadas – pessoas com tempo e dinheiro para receber educação”, afirma o arqueólogo bíblico Bart Erhman. A Bíblia como hoje a conhecemos viria a ser compilada no mesmo período de Constantino, por um sábio teólogo e clérigo oriental chamado Atanásio de Alexandria. Muitos evangelhos, como o de Maria Madalena, Judas Iscariótes, Filipe, Tomé, entre outros, foram excluídos do livro sagrado, os famosos “Apócrifos” – textos que para os homens da época não eram pertinentes, ou dignos, de constarem na Bíblia.

Se fossemos discorrer sobre outros aspectos do cristianismo precisaríamos do jornal todo, afinal, após a formação e a construção do cristianismo nasce a Igreja Católica, e com Leão Magno no século V, o Papado. Mas Cristo, Constantino e Atanásio já dão muita História, e a Igreja-instituição, deixemos para outras ocasiões.

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