
Marx deixa claro na “Ideologia Alemã” que “as idéias da classe dominante são, em todas as épocas, as idéias dominantes; ou seja, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante”. Marx voltava-se contra os burgueses da época, que logicamente possuíam a força material dominante. No entanto, ele se volta contra a força espiritual que também se encontra nas mãos dessa mesma classe – que seriam para época os ideólogos da classe, os criadores de ilusões e representações, logo os jovens hegelianos de esquerda, seguidores do filósofo alemão Georg Hegel, que havia criado anteriormente um complexo sistema metafísico para se contar a trajetória da História, onde um Espírito cósmico – e absoluto – reinava na razão dos homens. Pensemos agora: a classe dominante se divide entre material e espiritual. Uns detém o capital e os meios de produção (logo comandam a sociedade e sustentam a desigualdade social), já outros detém o poder de criar ilusões que legitimam essa mesma classe.
Em 14 de janeiro de 2012, trancafiados por meia hora em um suntuoso escritório na fortaleza de São Pedro estava o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, respeitado economista e membro vitalício do senado italiano, e o Sumo Pontífice do Estado da Cidade do Vaticano, Joseph Ratzinger, ou Bento XVI. Ao saírem, em frente aos jornalistas e fotógrafos, o pontífice elogiou as ações da Itália ao “combater” a crise econômica. A Itália, assim como muitos países europeus que seguem o modelo de austeridade da chanceler alemã, Angela Merkel, controlam os gastos públicos e cortam despesas “desnecessárias”, o que resulta na diminuição salarial de milhares de trabalhadores, aumento de impostos, suspensão de aposentadorias e cortes de empregos em massa, gerando violentas turbulências sociais, epicentro onde as massas suplicam e clamam por mudanças. Bento XVI pede “coragem” a Mario Monti, legitimando suas ações políticas. Neste mesmo encontro ambos trocaram valiosos presentes e se acomodaram nas luxuosas poltronas estofadas do escritório papal. A conversa parecia ter sido produtiva. Enquanto o pandemônio financeiro pairava – e ainda paira – sobre as classes baixas por todo o Ocidente, aquele que sustenta a força espiritual, o papa, reza para que essas mesmas almas imperfeitas prostrem-se perante as “corajosas” ações da Itália, guiada pelo pilar material, o primeiro-ministro italiano. Monti afirmou em junho: “Estamos em crise novamente!”. Enquanto isso, o Banco Vaticano transforma-se numa lavanderia de dinheiro sujo e, para tal tarefa, estão à disposição políticos italianos poderosos, empresários potentes, cardeais endinheirados e chefões da máfia siciliana. A corrupção financeira parece atormentar, novamente, a Colina Vaticana.
O historiador britânico Eric Hobsbawm estava certo quando disse que muito da teoria marxista pode ser transposta para os dias de hoje. E neste caso qualquer semelhança, caro leitor, é mera coincidência.
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