O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais.
(Agostinho de Hipona)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Monges guerreiros e a Ordem do Templo

Passaram-se quase oito séculos após a derrocada dos Templários, mas seu simbolismo e misticismo ainda encantam os poucos livros de História que tratam do tema. Sua trajetória foi reformulada e algumas especificidades merecem ser recontadas. Após a oficialização do cristianismo pelo imperador romano Constantino no século IV, há uma estruturação da Igreja Cristã como instituição herdeira dos principais pilares do império pós-decadência. “Querendo ou não, o cristianismo devia adaptar-se à nova situação”, afirma o historiador francês Alain Demurger. Nessa mesma época, através da intitulada “jihad” (guerra santa), os muçulmanos avançavam violenta e significativamente para o continente europeu e para a Terra Santa.

Em 1095, o papa Urbano II encerrava o Concílio de Clermont tratando especialmente da Igreja na França. “No dia seguinte, ao ar livre e diante da catedral, o papa dirige-se aos padres do concílio – clérigos, bispos e abades –, bem como a uma multidão de laicos – sobretudo membros da aristocracia”, afirma Alain Demurger. Firmava-se ali uma ordenação. Urbano II suplicava para que os cristãos de toda a Europa fossem à guerra para salvar a Terra Santa e suas relíquias. “Tirem daquela terra a perversa raça dos muçulmanos”, gritou o papa. Dava-se inicio às Cruzadas. Aprofundar-se no debate sobre a “guerra santa” seria escrever por todo o jornal, porém, as evidências históricas nos mostram que o cristianismo primitivo tinha aversão à violência, mas com o passar dos séculos, Santo Agostinho formula claramente uma teoria sobre isso: “São consideradas justas as guerras que vingam as injustiças”. Para Urbano II e seus sucessores, os três séculos de sangue derramado eram intrinsecamente necessários. Alguns anos depois, visando estratégias mais eficazes contra a expansão islâmica, além da proteção dos peregrinos que vagavam rumo à Jerusalém e ao Santo Sepulcro, em aproximadamente 1119, foi criada a mais conhecida ordem militar e religiosa da Idade Média, a Ordem dos Cavaleiros Templários. Instituída pelo papa Pascoal II, e em 1127, outorgada como “Ordem da Igreja” por Honório II – concedendo para os cavaleiros o manto branco com a cruz vermelha – os Templários tornaram-se os homens mais respeitados e representativos da cristandade.

Pesquisadores afirmam que ainda nos primeiros anos, a filosofia e a humildade dos cavaleiros, totalmente devotos e centrados, faziam deles quase anjos celestes em forma de gente. Mas, “no fim do século XII, a cruz vermelha dos Templários estava estampada em toda a faixa que vai da Europa a Jerusalém. Os cavaleiros eram influentes em Londres, e mantinham uma fortaleza dentro de Paris”, afirma o jornalista Thiago Cordeiro. Eles construíram bancos, torres, fortes e castelos que até hoje permanecem de pé. Reis e príncipes começaram a confiar aos Templários as suas riquezas. Seus poderes ganharam notoriedade e sua força política começou a abalar o trono de São Pedro. A Igreja, por outro lado, estava suficientemente abalada com as várias derrotas no Oriente e as diversas divisões que estava enfrentando. Não obstante, no século XIV, o rei francês Filipe, o Belo, sequestra o papa de Roma e o mantém refém na cidade de Avignon. O Cativeiro de Avignon, como foi chamado, rachou o Papado e desestruturou o Colégio de Cardeais – Roma deixava de ser a capital universal da Igreja.

Aliado ao papa Clemente V, Filipe orquestrou uma conspiração incrivelmente eficaz, acusando a Ordem do Templo de absurdos heréticos, e abusos inimagináveis, como urinar na cruz e orgias homossexuais entre membros. A inquisição, recém-criada em 1231 e mal estruturada, decretou que numa sexta-feira treze, no ano de 1307, aproximadamente oito horas da noite, os Pobres Cavaleiros Templários de Cristo fossem queimados vivos nas fogueiras ardentes, em uma colina nos arredores de Paris. Na época, o grão-mestre da Ordem, Jacques De Molay, foi preso, torturado e queimado vivo na Îlé de la Cité, uma das pequenas ilhas do rio Sena. Doente e temeroso, Clemente V nem mesmo ousou saber se as acusações contra a Ordem eram mesmo verídicas.

Séculos depois, graças às pesquisas da Dra. Barbara Frale, nós tivemos a confirmação da inocência dos Templários pelo Pergaminho de Chinon, um documento secreto assinado pelo próprio papa. Conspiração interna? Provavelmente. Alguns dizem que as riquezas, documentos, obras de arte, textos e relíquias, tão almejadas pelo rei francês, foram esbanjadas em poucos meses. Outros apoiam a teoria de que alguns cavaleiros fugiram no dia 12 de outubro, na calada da noite, guiando carroças com pesadas – e preciosas – cargas. Conspirações a parte, a História mostra que alguns membros realmente escaparam da França e pediram auxílio em Portugal, durante o reinado de D. Dinis I. Lá, eles formaram uma nova ordem, a Ordem de Cristo. Seus membros são famosos, como Pedro A. Cabral e Caminha – não lhe é familiar que as caravelas que vieram para o Brasil tinham em seu mastro a cruz vermelha dos Templários?

A queda dos cavaleiros foi um choque para os europeus da época. Segunda a historiadora inglesa, Brenda Ralph Lewis, “se uma organização tão rica e poderosa pôde ser arruinada em tão pouco tempo, que chances teriam as pessoas e governos que não contavam com os tais privilégios que os Templários possuíam? A resposta é simples: nenhuma”.

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