O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais.
(Agostinho de Hipona)

sábado, 13 de outubro de 2012

Um outro passado, um outro Cristianismo


Escutando uma pregação, somos levados – às vezes sem a intenção pré-estabelecida – a calar-nos e ouvir o que o pregador, seja ele quem for, quer nos dizer. A “boa nova” é transmitida para o povo e, logo após, todos retornam para suas casas. Não há questionamentos. Um erro, pois o cristianismo em sua essência é uma religião intrinsecamente histórica, sendo necessário o debate. Entretanto, sua história em si foi moldada ao longo dos séculos por diversos indivíduos, e talvez aquilo que escutamos atentamente nos bancos da igreja não seja o que supostamente tenha ocorrido. Existe uma teoria – apoiada por evidências – que quebra as barreiras do conspiracionismo e trás informações novas sobre a história do cristianismo. Chegou a hora de juntarmos as peças deste milenar quebra-cabeça, visando a formação de uma outra história – abalando assim aquilo que então pensávamos conhecer.


Em 1945, nos arredores do deserto Nag Hammadi, nas cavernas do Alto Egito, são descobertos fragmentos manuscritos em papiro, no idioma grego e que datam aproximadamente o século III. Intitulados de ‘Evangelhos Apócrifos’ (em grego: oculto), esses foram os livros que não entraram para a Bíblia quando veio a ocorrer sua compilação oficial. Tenhamos em mente que no cristianismo primitivo, não havia distinção entre esses livros (Evangelho segundo Judas, Filipe, Tomé, Maria, etc.) e os futuros “canonizados” pelo clero.

Retornemos para o período em que isso ocorreu. No século IV, Roma enfrentava um conflito religioso sem precedentes, e a batalha sangrenta entre pagãos e cristãos assolava dividir o império – sem contar a corrupção política, a desorganização militar e as invasões estrangeiras. O imperador Constantino, mesmo sendo pagão a vida toda, e só batizado no leito de morte, decidiu abraçar o cristianismo dando liberdade de culto através do Edito de Milão. Orquestrou também o Concílio de Nicéia, em 325 d.C, no qual muitos aspectos do cristianismo foram debatidos e outorgados, como a administração dos sacramentos, as heresias crescentes, as datas religiosas, e claro, a dualidade de Cristo e a escolha dos evangelhos. A pedido do imperador, Atanásio de Alexandria, influente teólogo e bispo oriental, lista os 27 livros do Novo Testamento, enquanto o debate a respeito da divindade de Jesus era travado pelos filósofos e pensadores da época. Afinal de contas, uns tinham Jesus como um ser mortal, já outros como Deus encarnado. O cristianismo acompanhou as transformações de pensamento, os eventos e mudanças históricas, logo, aquilo que ele representava para o povo antigo não era o mesmo que representava para o povo medieval ou contemporâneo. Das diversas “vertentes cristãs”, “lendas” ou “cristianismos” pós-crucificação, apenas um sobreviveu.

Encaixando cada peça, lhes faço uma pergunta controversa: teria sido possível que Jesus de Nazaré, judeu, camponês e cidadão, tenha sido um homem casado? Obviamente que para os conservadores doutrinados, até mesmo pensar sobre isso se torna um grave pecado. Eles irão negar até o último suspiro. Porém, muitos fatos podem corroborar e responder tal pergunta.

Os teólogos da época, para criar uma base dogmática e histórica para o cristianismo, excluíram da Bíblia original grande parte dos livros que mostravam Jesus mais humano que divino. Um desses evangelhos, segundo Filipe, afirma: “E a companheira do Salvador era Maria Madalena. E Cristo a amou mais que a todos os outros discípulos (...) o restante dos discípulos se ofendia por isto e expressava sua desaprovação”. De acordo com arqueólogos a palavra “companheira”, no hebraico e no aramaico significava “esposa”. Também fica claro essa desaprovação no Evangelho segundo Maria Madalena, onde ocorre um embate entre Pedro e Madalena. Levi, um dos seguidores, esbraveja: “Pedro, você sempre foi impetuoso. Agora vejo você atacando a mulher como a um adversário. Mas se o Salvador a valorizou, quem és tu para rejeitá-la? Seguramente, o Salvador a conhece muito bem. Por isso a amou mais que a nós”.

Do contrário do que se pensa, Madalena tinha muitas posses e nunca foi uma prostituta. O papa Gregório I, em 591 d.C., durante um sermão de Páscoa, a estigmatiza como uma meretriz. Muitos pintores renascentistas também retrataram uma mulher ao lado de Cristo, como Leonardo Da Vinci, Juan de Juanes e Georges de La Tour, assim como poemas, lendas e textos manuscritos que evidenciam tal matrimônio. A Igreja demonizou Maria Madalena, assim como fez com o “feminino” dentro do Ocidente cristão. Mas por quais razões?

Me aprofundar mais é um risco que não cometerei. Existem outras evidências. No entanto, testemunhe – talvez – o maior acobertamento da história da humanidade. Resquícios ocultados de mim, de você, de todos nós.

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