Escutando uma pregação,
somos levados – às vezes sem a intenção pré-estabelecida – a calar-nos e ouvir
o que o pregador, seja ele quem for, quer nos dizer. A “boa nova” é transmitida
para o povo e, logo após, todos retornam para suas casas. Não há
questionamentos. Um erro, pois o cristianismo em sua essência é uma religião
intrinsecamente histórica, sendo necessário o debate. Entretanto, sua história
em si foi moldada ao longo dos séculos por diversos indivíduos, e talvez aquilo
que escutamos atentamente nos bancos da igreja não seja o que supostamente
tenha ocorrido. Existe uma teoria – apoiada por evidências – que quebra as
barreiras do conspiracionismo e trás informações novas sobre a história do
cristianismo. Chegou a hora de juntarmos as peças deste milenar quebra-cabeça,
visando a formação de uma outra história – abalando assim aquilo que então
pensávamos conhecer.
Em 1945, nos arredores
do deserto Nag Hammadi, nas cavernas do Alto Egito, são descobertos fragmentos
manuscritos em papiro, no idioma grego e que datam aproximadamente o século
III. Intitulados de ‘Evangelhos Apócrifos’ (em grego: oculto), esses foram os
livros que não entraram para a Bíblia quando veio a ocorrer sua compilação
oficial. Tenhamos em mente que no cristianismo primitivo, não havia distinção
entre esses livros (Evangelho segundo Judas, Filipe, Tomé, Maria, etc.) e os futuros
“canonizados” pelo clero.
Retornemos para o
período em que isso ocorreu. No século IV, Roma enfrentava um conflito
religioso sem precedentes, e a batalha sangrenta entre pagãos e cristãos
assolava dividir o império – sem contar a corrupção política, a desorganização
militar e as invasões estrangeiras. O imperador Constantino, mesmo sendo pagão
a vida toda, e só batizado no leito de morte, decidiu abraçar o cristianismo
dando liberdade de culto através do Edito de Milão. Orquestrou também o
Concílio de Nicéia, em 325 d.C, no qual muitos aspectos do cristianismo foram
debatidos e outorgados, como a administração dos sacramentos, as heresias
crescentes, as datas religiosas, e claro, a dualidade de Cristo e a escolha dos
evangelhos. A pedido do imperador, Atanásio de Alexandria, influente teólogo e
bispo oriental, lista os 27 livros do Novo Testamento, enquanto o debate a
respeito da divindade de Jesus era travado pelos filósofos e pensadores da
época. Afinal de contas, uns tinham Jesus como um ser mortal, já outros como
Deus encarnado. O cristianismo acompanhou as transformações de pensamento, os
eventos e mudanças históricas, logo, aquilo que ele representava para o povo
antigo não era o mesmo que representava para o povo medieval ou contemporâneo. Das
diversas “vertentes cristãs”, “lendas” ou “cristianismos” pós-crucificação,
apenas um sobreviveu.
Encaixando cada peça,
lhes faço uma pergunta controversa: teria sido possível que Jesus de Nazaré,
judeu, camponês e cidadão, tenha sido um homem casado? Obviamente que para os
conservadores doutrinados, até mesmo pensar sobre isso se torna um grave
pecado. Eles irão negar até o último suspiro. Porém, muitos fatos podem
corroborar e responder tal pergunta.
Os teólogos da época,
para criar uma base dogmática e histórica para o cristianismo, excluíram da
Bíblia original grande parte dos livros que mostravam Jesus mais humano que
divino. Um desses evangelhos, segundo Filipe, afirma: “E a companheira do
Salvador era Maria Madalena. E Cristo a amou mais que a todos os outros
discípulos (...) o restante dos discípulos se ofendia por isto e expressava sua
desaprovação”. De acordo com arqueólogos a palavra “companheira”, no hebraico e no aramaico significava “esposa”.
Também fica claro essa desaprovação no Evangelho segundo Maria Madalena, onde
ocorre um embate entre Pedro e Madalena. Levi, um dos seguidores, esbraveja:
“Pedro, você sempre foi impetuoso. Agora vejo você atacando a mulher como a um
adversário. Mas se o Salvador a valorizou, quem és tu para rejeitá-la?
Seguramente, o Salvador a conhece muito bem. Por isso a amou mais que a nós”.
Do contrário do que se
pensa, Madalena tinha muitas posses e nunca foi uma prostituta. O papa Gregório
I, em 591 d.C., durante um sermão de Páscoa, a estigmatiza como uma meretriz.
Muitos pintores renascentistas também retrataram uma mulher ao lado de Cristo,
como Leonardo Da Vinci, Juan de Juanes e Georges de La Tour, assim como poemas,
lendas e textos manuscritos que evidenciam tal matrimônio. A Igreja demonizou
Maria Madalena, assim como fez com o “feminino” dentro do Ocidente cristão. Mas
por quais razões?
Me aprofundar mais é um
risco que não cometerei. Existem outras evidências. No entanto, testemunhe –
talvez – o maior acobertamento da história da humanidade. Resquícios ocultados
de mim, de você, de todos nós.
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