O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais.
(Agostinho de Hipona)

domingo, 23 de junho de 2013

A Era das Manifestações: Brasil, revolução e democracia. (E agora?)

     Sem sombra de dúvidas, o dia 20 de junho de 2013 entrou para a História de forma jamais imaginada. Por pouco não sentimos o chão tremer e as estruturas despencarem. A chegada da noite anunciava – assim como nos dias anteriores – uma onda de manifestações que enchiam as avenidas e varriam as principais metrópoles da nação, entre elas, São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Manaus, Belo Horizonte, Recife e Curitiba. Uma erupção de contestação e indignação jamais presenciada no país desde os movimentos de massa das décadas de 1960 a 1990. Manifestações sem lideranças aparentes, onde participam diversos estratos e grupos sociais. O aumento do preço das passagens do transporte coletivo foi como o aumento exorbitante do preço do pão na França pré-revolução. A gota d’agua. A tensão e violência começaram a crescer. Com isso, a Polícia Militar – a mal remunerada marionete do Estado  – fez o seu trabalho da forma mais truculenta possível. Uma guerra entre policiais e a população começava!

     Mesmo claramente divididos pela geografia, os brasileiros encontraram uma maneira de alcançar a união. Assim como em outros países a “era da informação” se mostrou capaz de grandes transformações, fazendo emergir um leque de ferramentas capazes de ultrapassar fronteiras, barreiras e qualquer impedimento. Redes sociais como o Facebook e o Twitter – tecidos sociais invisíveis e conflituosos – tornam-se as principais alavancas das modernas mobilizações de massa e suas revoluções – vide a Primavera Árabe e o movimento Occupy Wall Street em 2011. Tais espaços de mobilização são comparados apenas aos cafés e lojas maçônicas do século XVIII e aos sindicatos do século XX, onde se reivindicava melhorias e direitos para a classe trabalhadora. A noite passava. Cartazes eram erguidos. O transito parava. Ecoava pelas estatuetas do Palácio do Planalto vozes de respeito, cidadania e democracia. Não a democracia oca e ilógica que vivemos – tão bem conceituada por Aldous Huxley em seu ‘Admirável Mundo Novo’ – mas um sistema político verdadeiramente participativo. Utopias à parte, essas eram as reivindicações dos manifestantes (me incluo nessa categoria, assim como dezenas de amigos e conhecidos). Contudo, com o desenrolar dos protestos algumas questões se sobressaíram, entre elas a maléfica postura da imprensa.

     Filha da sangrenta ditadura civil-militar que dominou o país de 1964 aos fins de 1980, a Rede Globo de televisão se faz presente em todas as residências brasileiras dos anos de chumbo aos nossos dias. Evidentemente, seu poderio político-financeiro ultrapassa as fronteiras do jornalismo tradicional. Sua postura logo no inicio, por exemplo, mediante a voz elitista e reacionária de Arnaldo Jabor, foi de completo desprezo aos revoltosos. Intensificado os protestos, os telejornais do conglomerado passaram a transmitir um discurso completamente invertido – agora, apoiando as manifestações contrárias ao governo Dilma Rousseff. Muitas delas extremamente violentas, movidas por uma minoria esbravejante e inconsciente. Outras, agora sim uma direita bastante consciente, até mesmo apoiando a volta dos militares ao poder. Neste ínterim, as bandeiras partidárias – de esquerda – começavam a ser rechaçadas, assim como seus portadores eram expulsos da multidão. O hipócrita “verde e amarelo” começava a aparecer com mais intensidade e, com o aumento da tensão nacional e a repercussão internacional, a presidente decidiu se pronunciar.

 Não, o Brasil não acordou! Algumas camadas da sociedade acordaram. Algumas ainda estão acordando, outras jamais dormiram. Dilma em seu pronunciamento, tirando o discurso demagógico de praxe, disse algo que vale a pena refletirmos: chegou a hora de canalizarmos as manifestações para algo concreto. Uma mudança efetiva. Um país que viveu séculos de escravidão e monarquia, sob o domínio de padroados, oligarquias e generais não desperta assim tão rapidamente. Ou nos unimos a favor de uma nação verdadeiramente democrática ou as elites dirigentes continuarão reinando, podendo moldar a sociedade brasileira da maneira que desejar através da manipulação da opinião pública, sem contar o embalo de alguns grupos simpatizantes do velho autoritarismo. Afinal, o que eles têm a perder? O contexto histórico é outro. O mundo não está mais polarizado militar e ideologicamente como na Guerra Fria. Mas há o risco. O risco de sermos totalmente manipulados e colocarmos a perder o pouco que lutamos até agora.  

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