Sem
sombra de dúvidas, o dia 20 de junho de 2013 entrou para a História de forma
jamais imaginada. Por pouco não sentimos o chão tremer e as estruturas
despencarem. A chegada da noite anunciava – assim como nos dias anteriores –
uma onda de manifestações que enchiam as avenidas e varriam as principais
metrópoles da nação, entre elas, São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Manaus,
Belo Horizonte, Recife e Curitiba. Uma erupção de contestação e indignação
jamais presenciada no país desde os movimentos de massa das décadas de 1960 a
1990. Manifestações sem lideranças aparentes, onde participam diversos estratos
e grupos sociais. O aumento do preço das passagens do transporte coletivo foi
como o aumento exorbitante do preço do pão na França pré-revolução. A gota
d’agua. A tensão e violência começaram a crescer. Com isso, a Polícia
Militar – a mal remunerada marionete do Estado – fez o seu
trabalho da forma mais truculenta possível. Uma guerra entre policiais e a população começava!
Mesmo
claramente divididos pela geografia, os brasileiros encontraram uma maneira de
alcançar a união. Assim como em outros países a “era da informação” se mostrou
capaz de grandes transformações, fazendo emergir um leque de ferramentas capazes
de ultrapassar fronteiras, barreiras e qualquer impedimento. Redes sociais como
o Facebook e o Twitter – tecidos sociais invisíveis e conflituosos – tornam-se as
principais alavancas das modernas mobilizações de massa e suas revoluções –
vide a Primavera Árabe e o movimento Occupy Wall Street em 2011. Tais espaços
de mobilização são comparados apenas aos cafés e lojas maçônicas do século
XVIII e aos sindicatos do século XX, onde se reivindicava melhorias e direitos para
a classe trabalhadora. A noite passava. Cartazes eram erguidos. O transito
parava. Ecoava pelas estatuetas do Palácio do Planalto vozes de respeito,
cidadania e democracia. Não a democracia oca e ilógica que vivemos – tão bem
conceituada por Aldous Huxley em seu ‘Admirável
Mundo Novo’ – mas um sistema político verdadeiramente participativo.
Utopias à parte, essas eram as reivindicações dos manifestantes (me incluo
nessa categoria, assim como dezenas de amigos e conhecidos). Contudo, com o
desenrolar dos protestos algumas questões se sobressaíram, entre elas a maléfica
postura da imprensa.
Filha
da sangrenta ditadura civil-militar que dominou o país de 1964 aos fins de
1980, a Rede Globo de televisão se faz presente em todas as residências
brasileiras dos anos de chumbo aos nossos dias. Evidentemente, seu poderio
político-financeiro ultrapassa as fronteiras do jornalismo tradicional. Sua postura
logo no inicio, por exemplo, mediante a voz elitista e reacionária de Arnaldo Jabor,
foi de completo desprezo aos revoltosos. Intensificado os protestos, os
telejornais do conglomerado passaram a transmitir um discurso completamente
invertido – agora, apoiando as manifestações contrárias ao governo Dilma
Rousseff. Muitas delas extremamente violentas, movidas por uma minoria
esbravejante e inconsciente. Outras, agora sim uma direita bastante consciente,
até mesmo apoiando a volta dos militares ao poder. Neste ínterim, as bandeiras
partidárias – de esquerda – começavam a ser rechaçadas, assim como seus
portadores eram expulsos da multidão. O hipócrita “verde e amarelo” começava a
aparecer com mais intensidade e, com o aumento da tensão nacional e a
repercussão internacional, a presidente decidiu se pronunciar.
Não,
o Brasil não acordou! Algumas camadas da sociedade acordaram. Algumas ainda
estão acordando, outras jamais dormiram. Dilma em seu pronunciamento, tirando o
discurso demagógico de praxe, disse algo que vale a pena refletirmos: chegou a
hora de canalizarmos as manifestações para algo concreto. Uma mudança efetiva.
Um país que viveu séculos de escravidão e monarquia, sob o domínio de
padroados, oligarquias e generais não desperta assim tão rapidamente. Ou nos
unimos a favor de uma nação verdadeiramente democrática ou as elites dirigentes
continuarão reinando, podendo moldar a sociedade brasileira da maneira que
desejar através da manipulação da opinião pública, sem contar o embalo de
alguns grupos simpatizantes do velho autoritarismo. Afinal, o que eles têm a
perder? O contexto histórico é outro. O mundo não está mais polarizado militar
e ideologicamente como na Guerra Fria. Mas há o risco. O risco de sermos
totalmente manipulados e colocarmos a perder o pouco que lutamos até agora.
Muito bom o texto. :)
ResponderExcluirExcelente texto, Parabéns!
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