Niccolò Machiavelli,
escritor, teórico e astuto diplomata da conflituosa República de Florença, na
Itália do século XVI, é atualmente rememorado pela grande maioria de cientistas
políticos principalmente por conta de seu vasto pensamento, conceitos e
pressupostos. Maquiavel, considerado um dos fundadores da Ciência Política, não
muito diferente dos teóricos de seu tempo, propôs uma filosofia complexa imersa
em uma Europa turbulenta, marcada por jogos de poder e disputas militares entre
papas e cardeais, reis e aristocratas, e mercenários sedentos por influência em
compasso com uma burguesia em ascensão.
Em um contexto de
efervescência cultural gestada pelos auspícios do Renascimento, a República de
Florença sustentada pela dinastia dos Médicis foi o tabuleiro central onde Maquiavel
pôde mover as mais estratégicas peças de um jogo de xadrez no mínimo mortal. Ao
escrever sua polêmica obra-prima, O
Príncipe, o teórico baseou-se nas ações e condutas do filho bastardo do
papa Alexandre VI, César Borgia, que almejava conquistar para o pai, através
das armas, um império católico muito além das fronteiras dos Estados
Pontifícios. Neste interim, trazendo à tona a filosofia de Maquiavel para
nossos dias, há uma questão para refletirmos: afinal de contas, existiria ética
na política?
Para Maquiavel, “há uma
coisa que se pode dizer, de uma maneira geral, de todos os homens: que são
ingratos, mutáveis, dissimulados, inimigos do perigo, ávidos de ganhar”. Pessimista
como o teórico florentino, há Lord Acton, historiador liberal inglês que também
afirmaria três séculos depois que “o poder corrompe, e corrompe absolutamente”.
Como pudemos observar os termos “poder” e “política”, seja em qualquer uma das
ciências humanas, aparecem indissociáveis. E “ética”, que deriva do grego ethos (caráter de uma pessoa), pode ser
considerada um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta
humana na sociedade. Mas afinal, deixando de lado as generalizações de Maquiavel,
aqueles que desde sempre detiveram o poder em suas mãos seriam facilmente
corrompidos?
Para Maquiavel,
o político não precisa necessariamente ser aquilo que aparenta. Não precisa ser
engajado, religioso, atencioso ou preocupado com a grande massa, basta apenas
aparentar que o é. Para muitos acadêmicos, o pensamento maquiavélico ainda se
faz presente em muitos corações e mentes, principalmente daqueles que detêm a
autoridade, o mando e a influência. O que hoje assistimos em nossa cidade, por
coincidência, são sujeitos que aparentam ser aquilo que jamais foram:
verdadeiros representantes do povo. Enquanto uma minoria que aos percalços
chega ao poder e almeja drásticas mudanças, tais sujeitos possuem uma
trajetória obscura que poucos conhecem. E sem temor afirmo: desconhecem a
ética, e estão mais corrompidos pelo poder e ambição que poderíamos sequer
imaginar.
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