O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais.
(Agostinho de Hipona)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ética, poder e política

     Niccolò Machiavelli, escritor, teórico e astuto diplomata da conflituosa República de Florença, na Itália do século XVI, é atualmente rememorado pela grande maioria de cientistas políticos principalmente por conta de seu vasto pensamento, conceitos e pressupostos. Maquiavel, considerado um dos fundadores da Ciência Política, não muito diferente dos teóricos de seu tempo, propôs uma filosofia complexa imersa em uma Europa turbulenta, marcada por jogos de poder e disputas militares entre papas e cardeais, reis e aristocratas, e mercenários sedentos por influência em compasso com uma burguesia em ascensão.
     Em um contexto de efervescência cultural gestada pelos auspícios do Renascimento, a República de Florença sustentada pela dinastia dos Médicis foi o tabuleiro central onde Maquiavel pôde mover as mais estratégicas peças de um jogo de xadrez no mínimo mortal. Ao escrever sua polêmica obra-prima, O Príncipe, o teórico baseou-se nas ações e condutas do filho bastardo do papa Alexandre VI, César Borgia, que almejava conquistar para o pai, através das armas, um império católico muito além das fronteiras dos Estados Pontifícios. Neste interim, trazendo à tona a filosofia de Maquiavel para nossos dias, há uma questão para refletirmos: afinal de contas, existiria ética na política?
     Para Maquiavel, “há uma coisa que se pode dizer, de uma maneira geral, de todos os homens: que são ingratos, mutáveis, dissimulados, inimigos do perigo, ávidos de ganhar”. Pessimista como o teórico florentino, há Lord Acton, historiador liberal inglês que também afirmaria três séculos depois que “o poder corrompe, e corrompe absolutamente”. Como pudemos observar os termos “poder” e “política”, seja em qualquer uma das ciências humanas, aparecem indissociáveis. E “ética”, que deriva do grego ethos (caráter de uma pessoa), pode ser considerada um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. Mas afinal, deixando de lado as generalizações de Maquiavel, aqueles que desde sempre detiveram o poder em suas mãos seriam facilmente corrompidos?  
     Para Maquiavel, o político não precisa necessariamente ser aquilo que aparenta. Não precisa ser engajado, religioso, atencioso ou preocupado com a grande massa, basta apenas aparentar que o é. Para muitos acadêmicos, o pensamento maquiavélico ainda se faz presente em muitos corações e mentes, principalmente daqueles que detêm a autoridade, o mando e a influência. O que hoje assistimos em nossa cidade, por coincidência, são sujeitos que aparentam ser aquilo que jamais foram: verdadeiros representantes do povo. Enquanto uma minoria que aos percalços chega ao poder e almeja drásticas mudanças, tais sujeitos possuem uma trajetória obscura que poucos conhecem. E sem temor afirmo: desconhecem a ética, e estão mais corrompidos pelo poder e ambição que poderíamos sequer imaginar. 

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