O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais.
(Agostinho de Hipona)

domingo, 4 de agosto de 2013

O cancelamento da Festa do Peão e a política do “Pão e Circo”


     Lembrado como um dos maiores impérios da História, a Roma da antiguidade conheceu diferentes etapas políticas durante sua existência. Após a queda do último de seus sete reis, a República foi instaurada em 509 a.C. e sobreviveu até 27 a.C., data na qual o Senado concedeu o título de Princeps a Otávio, além de conferir-lhe o título de Augusto, até então reservado aos deuses. Nascia então o Império Romano. Foi durante essa conflituosa mudança de regimes, abolindo o Senado e concedendo poderes ao Exército, que uma estratégia política conhecida como “pão e circo” foi posta em prática. 
      O panis et circenses garantia a distribuição de trigo para a plebe urbana e grandes espetáculos públicos, como “lutas de gladiadores” e “corridas de bigas”, com o objetivo de “acalmá-la” em meio a insatisfação popular contra a classe governante. Décimo Juvenal, um influente poeta romano do período chegou a afirmar que “as satisfações materiais colocam o povo em um sórdido materialismo, no qual as preocupações com a liberdade são esquecidas”. A prática do “pão e circo” tal como Roma concebeu, após sua queda violenta em 476 d.C., jamais ocorreria novamente. Porém, seus resquícios até hoje assombram nossa política. Itararé que o diga...
      Foi no dia 31 de julho, através de uma nota à imprensa, que a Prefeitura Municipal afirmou “que não iria investir dinheiro público na Festa do Peão”, festividade que visa comemorar o aniversário da cidade – o anual “pão e circo” itarareense. A nota continua: “conforme o Departamento de Contabilidade” os gastos foram de “R$ 568.357,18 em 2011; e R$ 569.372,46 em 2012”. Valores altíssimos que em outros tempos foram gastos em gestões corruptas, em face de uma cidade politicamente abandonada. 
      Sendo assim, a atual gestão firmada nos princípios da transparência e da gerência em prol do que é necessário, decidiu sabiamente não realizar o evento. Afinal, o que foram as tradicionais ‘Festas do Peão’ dos anos anteriores? Enquanto bandas medíocres e músicas deprimentes ecoavam pelas colinas do município, uma multidão acéfala se aglutinava na arena. Ao seu redor uma elite faustosa e decadente se entrelaçava em camarotes cambaleantes, aplaudindo, gritando e se embebedando, enquanto os cofres públicos eram saqueados. Os governantes do período, longe de se assemelharem aos imperadores romanos, também compactuavam com tais ‘festividades’. 
      Entretanto, comemorações como desfiles cívicos (extintos pelas gestões anteriores), ocorrerão no 120º aniversário de Itararé. Eventos musicais como a Big Band do Conservatório de Tatuí, considerada uma das melhores do país, irá se apresentar na Praça São Pedro no dia 28. Segundo a Coordenadoria de Cultura a banda “reúne 18 músicos, com objetivo de apresentar música popular e jazz com arranjos de alta dificuldade técnica”. Agora, como é de praxe, nos resta às críticas de vereadores populistas, sujeitos despolitizados e, sem dúvida alguma, os questionamentos da mesma elite decadente que, digna de uma mentalidade fraca, desde os tempos do Império Romano admiram estratégias de alienação. É a sujeira, e os sujos, almejando o retorno aos gabinetes do Executivo.

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