O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais.
(Agostinho de Hipona)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Fraudes e corrupção no Banco do Papa: os pecados de ontem e hoje

Em um de seus mais icônicos momentos, o Novo Testamento narra Jesus de Nazaré expulsando com ira os mercadores e vendilhões que comercializavam no Templo. “Fez ele com chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas”. Este trecho pode ser encontrado em qualquer um dos quatro evangelhos sinóticos de maneira discrepante, mas notória. Séculos se passaram, pouca coisa mudou.

No dia 28 de junho o Vaticano novamente foi posto no banco dos réus quando monsenhor Nunzio Scarno, influente sacerdote italiano, foi retirado à força e preso pela policia acusado de fraude, corrupção e lavagem de dinheiro na máquina financeira central da Igreja Católica: o Instituto para Obras Religiosas – o Banco Vaticano. Dias depois do escândalo o diretor-geral, Paolo Cipriani, e seu vice, Massimo Tulli, renunciaram. Nada surpreendente até o momento. A trajetória de escândalos financeiros envolvendo os mais ilustres membros do clero pode aqui ser brevemente rememorada.

Enquanto o receoso papa Leão XIII, no começo do século XX, guardava uma arca de ferro com joias e ouro debaixo de sua cama, na década de 1970 o Vaticano estava imerso em múltiplos escândalos de lavagem de dinheiro e falência de bancos. Próximos do novo milênio, o centro da mais antiga instituição político-religiosa do mundo havia se tornado um paraíso fiscal para mafiosos, cardeais e políticos italianos. Quando questionado sobre tais trâmites, célebre tornou-se a frase dita pelo bispo e secretário do banco Paul Casimir Marcinkus: “Pode-se viver neste mundo sem se preocupar com o dinheiro? Não se pode dirigir a igreja com ave-marias”.

Segundo o vaticanista Claudio Rendina, “o comportamento pecaminoso dos representantes do clero, no Estado Pontifício, geralmente fica escondido graças a Santa Sé. Conseguiu-se manter certo silêncio das situações discriminadas pela Igreja, mesmo do fechado Vaticano, nos primeiros vinte anos de seu reconhecimento como Estado, depois dos Pactos Lateranenses”.

Os Pactos Lateranenses foram uma série de documentos assinados no começo do século XX em um encontro no Palácio de Latrão entre assessores do governo – chefiado pelo ditador fascista Benito Mussolini – e a Santa Sé, corporizada pelo então secretário de Estado Pietro Gasparri. Reconhecido pela Itália, nascia o Estado do Vaticano. Anos mais tarde, com a enorme quantia de dinheiro “ofertada” por Mussolini, o papa Pio XII fundava o Instituto para Obras Religiosas.

Contas paralelas, desvios bilionários, trâmites políticos entre cardeais e arcebispos, sem contar imóveis comerciais milionários em Paris, Suíça e Londres, recentemente descobertos por jornalistas ingleses. É de se esperar que a maioria do Colégio de Cardeais, assim como o detido Nunzio Scarno, ainda estime a memorável frase do papa Leão X proferida no início do século XVI: “Deus nos deu o Papado, então vamos aproveitá-lo". 

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